domingo, 19 de novembro de 2017

RN40 Para Susques, pelo caminho mais impróprio...


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It's a brilliant surface in that sunlight. The horizon seems quite close to you because the curvature is so much more pronounced than here on earth. It's an interesting place to be. I recommend it.” - Neil Armstrong, falando sobre a lua



Hoje é dia de mais RN40! Desta vez por um pedaço bem abandonado e dificil! 

Abaixo: A ultra agradavel, confortavel e aconchegante pousada em San Antonio de Los Cobres. Sumak Samay, recomendo fortemente!





Ao lado: SIIIIMMMM   TEM GENTE MAIS LOUCA DO QUE EU!!  Este casal de franceses viaja por aí de bicicleta levando uma criança de um ano a bordo...























Abaixo: OOPPPSSS...  toda viagem tem que ter um acidente... ainda bem que foi este!!!























Manha de um novo dia!! Dormi muito bem por conta da altitude e do conforto da pousada. O café da manha foi o que eu esperava: café com pão!!!  Mas eu tinha muita gulodiçe na malinha e só precisei de água caliente para preparar mais do Tê de cocá.

Andamos 253km até aquele ponto e em tese teria (ao nível do mar) mais 220km de autonomia. Em grande altitudes a Rocinante bebe pouco, portanto calculei que teria pelo menos mais 260km com o combustível que restava no tanque. Há um posto em San Antonio, cuidado por um viejo señor muito irônico que te vende a pior gasolina do continente. 


































Mesmo com autonomia sobrando para hoje,  passei pelo posto para ver se tinha óleo de motor, e por incrível que pareca ele tinha!!! . Lembrando que eu perdi a tampa do oleo e o que está lá é uma tampa feita com silver tape e peças para vitrola. Comprei um pouco óleo reserva e não pus gasolina.  

Hoje é dia de uma estrada muito difícil e eu não quero andar com a moto pesada (o tanque cheio carrega 24,7 kg). Qualquer coisa que voce precise levantar a 4.000m de altitude pesa o dobro...



A saída para o sul pela RN40































Como vimos, naquele lugar existem duas  RN40.  Em março  fomos para o norte pelo trecho original, que passou 20 anos abandonado e agora é rota principal para caminhões e vans de turistas (vide post    Março 2017). Na década de 80 foi construído um novo trecho que passa mais a oeste de San Antonio, por detrás de uma pequena cadeia de montanhas, ligando Los Cobres à Susques. Hoje esta estrada está praticamente abandonada e com paisagens interessantíssimas!!!  É por lá que vamos!!




Seguindo reto é o caminho para o Paso de Sico e para as minas de lítio que estão ativas. Seguimos para a direita, pelo "novo trecho" da RN40 para o norte.

Abaixo, a vista de cima da ferrovia para o vale ao sul. As montanhas altas marcam a divisa com o Chile. O pico mais alto a esquerda na foto é o vulcão Socompa, que marca a divisa. 

































Tomei a estrada eram 10:00 e fazia um calor de 7°C, o caminho sai pelo sudoeste da vila (alt.:3800m). Bastou seguir 6 km para oeste, o caminho do Paso de Sico (leva a San Pedro de Atacama), para encontrar a nova RN40 (aqui em cima as coisas são curiosas: o Viejo está em ordem e lo Nuevo está abandonado...) seguindo para o norte, em direção ao viaduto Polvorilla. 

 


Acima, O que restou da mina de La Polvorilla, esta mina foi muito importante e a mineração de ouro e cobre foi que trouxe ferrovia para esta lugar.






















































Eu tinha que parar ali para as inevitáveis fotos do monumento local, para o chá quente e para me preparar para entrar no nada, no proximo trecho bem abandonado da estrada.

O viaduto Polvorilla (alt.:4.130m) - (significa poeira fina, o que mais existe por aqui...ou pólvora, que era usada nas antigas minas exatamente abaixo do viaduto) fica a 16k da vila. Por ele passa o Tren de las Nubes, a ferrovia mais alta do planeta e que hoje só faz passeios turísticos vindos de Salta.

Nos finais de semana ou durante as férias, este lugar fica cheio de turistas que vem com o trem tirar fotos, comprar bobagens e passar mal nas suaves mãos da Puna...





































 Após o viaduto, a Carretera Panamericana segue para norte,  serpenteando por uma ravina apertada, uma estradinha extremamente estreita, muito difícil e totalmente divertida!. Apesar da dificuldade,  deu para andar na média que eu pretendia fazer, o piso era ótimo e seguro. Depois desta ravina o caminho sai para oeste e entra em um amplo vale, a estrada melhora muito, a altitude por volta de 4.300m e alguns bofedais ( pontos de fertilidade no fundo dos vales). Logo saímos da provincia de Salta e entramos em Jujuy, na legítima Puna Jujeña.



Na garrafinha o indispensável Chá de Coca.



Acima: Ruínas de uma antiga hacienda.

Abaixo a estrada serpenteia por morros ingremes e altos, o piso é muito bom e seguro.


































Neste vale o grande herói é o vulcón Tuzgle. Está entre os vulcões mais altos do planeta (5.486m). Sua base, por onde a estrada margeia, é resultado de uma erupção há cerca de 650 mil anos atrás, enquanto se percebe claramente um derramamento de lava (bem mais escura) que aconteceu a cerca de 12 mil anos, sua atividade mais recente.  O interessante é que ele está sozinho nesta planície e se eleva 1.150 m acima da estrada (o mesmo da baía da Guanabara até o pico dedo de Deus).



Acima e abaixo. A serrinha sobe até 4.350m de altitude, existe este bofedal alí se entra na gigantesca planície do Tuzgle.



Acima: entrando na legítima Puna Jujeña. Era exatamente isto que eu queria viver!!!

O heroi do dia!  O vulcão Tuzgle, repare nas manchas negras à sua esquerda, são o derramamento de lava de sua última erupção a 12 mil anos atras. Seu pico está 1.150m metros mais alto do que a estrada!
O piso da estrada é liso e cheio de uma areia fofa e grossa, sem problemas por aqui...




A estrada contorna por oeste dele. Logo depois da camada formada pela última erupção to Tuzgle, um riacho beeem pequeno, chamado Aguas Calientes (sim!!  aquecidas pelo vulcão, se eu procurasse algumas pequenas minas de água, encontraria água quente saindo do solo!!), começou a cavar sua passagem em direção norte. Com tempo e paciência abriu um lindo Canion por onde a estrada passa. O lugar também é chamada de "La Jugueteria" por conta da quantidade de pedras jogadas ao caminho, como se fosse em um salão de jogos.




Acima: o derramamanto de lava composta de basalto negro.


































A estrada sai do cânion da Jugueteria e desce para 3.900m de altitude e cruza uma imensa planície.  Nesta planície (ainda faltavam 60km para o asfalto) o piso da estrada foi extremamente dificil, ora apareciam enormes Calaminas (costelas de vaca), ora o piso era extremamente escorregadio e eram comuns trechos longos com muita areia.  A diversão virou uma luta contra a estrada.






Acima e abaixo: Entrando em La Jugueteria, o canion formado pelo pequeno riacho





















Acima: sempre tem um herói! Uma pequena fazenda neste fim de mundo.






















Acima e abaixo: Sim, este pequeno córrego de água quente foi quem rasgou este lindo canion!!! 






Acima: saindo de La Jugueteria e entrando na enorme planície. A estrada fica dificil.











































Passado a grande planície, a estrada insegura encontra um arroyo que vem de Susques, e segue por bom tempo ao lado deste até  encostar em umas montanhas e tudo segue até o vilarejo de Huancár ( Alt 3.200m; 13:20 -  16°C ). Sinceramente não sei por que alguém vem viver aqui. 

Parei para água, a última barrinha de cereal e goles de té caliente. Esta parada foi ao lado do arroyo...  foi um lugar bonito, cerca de 9km antes de Huancár.

Sóooo que dai começou a crise, exatamente após o lugar onde parei aconteceram vários Badenes, cerca de uns oito. Baden é a baixada por onde o rio passa por cima da estrada...  só que nesta época os rios são secos, e por onde passa a agua o lugar fica cheio de uma areia extra fina e fofa. O Baden se torna un Arenal!!!



Acima: o chatíssimo trecho de 30km pela planície entre La Jugueteria e Huancár. piso com muita areia e muitas calaminas (costela de vaca). Precisei de muita atenção por conta dos bancos de areia fofos.



Abaixo: Parada para agua e comida a cerca de 9km antes de Huancár. Os riachos estão secos, portanto onde eles passam por cima da estrada existem grande bancos de areia. Dificílimo de se passar!!! Repare na foto  a areia fofa do piso.































Foi extraordinariamente difícil passar pelos Badenes: a moto balança, a roda da frente se perde e a roda traseira ameaça atolar. A solução é entrar naquilo com certa velocidade e quando a crise começar se deve vencer o medo e acelerar  muito...   nos últimos Arenais eu abria quase todo o acelerador com raiva, xingava muito cada badén que eu vencia!




Acima e abaixo cenas de Huancár. Simples, humilde, no meio do nada. Mas não ha lixo, não ha miséria e a escuela municipal esta extremamente em ordem.

























Acima: Comedor Miguelito, não está relacionado no Guide Michelin. Embora a entrada a 45 graus da rua seja uma forma de trazer nobresa à edificação



Huncár é o nome de um tambor grande usado pelos Incas
durante cerimonias religiosas ou para guerra. Vejam as fotos, a cidade não é abandonada nem miserável, ela simplesmente é Andina... tem seu charme, já estou acostumado e não vejo aquilo como miséria. Muito pelo contrário, não se vê lixo, as pessoas não estão descalças e a Escuela Argentina está impeável e  ostenta sua bandeira na porta. O lugar tem 200 habitantes e 95 alunos! Vem gente de todos os lugares estudar aqui.

Acima: os últimos 22km até encontrar o asfalto e seguir para Susques. Bem ao fundo as montanhas que levam ao Salar de Olaroz e ao paso de Jama




































Infelizmente era domingo, e não havia viva alma na vila. Fiquei la por coisa de 40 minutos e vi coisa de umas 5 pessoas!!!

Me sentei na frente da igrejinha, de frente para a praça, água, barrinhas de cereal e alguns quitutes industrializados. Ali vieram para me fazer compania o silencio, o céu extra azul e Ínti ardendo no meu rosto.
O Té de Coca  acabou exatamente naquela praça, quando faltavam somente 22km até o hotel. Saí de Huancár eram 14:00 e fazia um calor de 17°C com rajadas muito fortes de vento, já tinha rodado 100 km por  um piso muito dificil e estava cansado e com muito medo de enfrentar  mais dos perigosos arenales. Qual a minha surpresa que a estrada desde Huancár foi sinuosa, um sobe e desce, piso perfeito tudo muito bonito!  Andei muito devagar aproveitando tudo aquilo e muito feliz!

Estava dentro do meu plano de chegar ao hotel por volta das 16:00  O cansaço começou a aparecer depois de um dia inteiro acima de 4.000m. E eu já estava ficando entediado de conviver com as estradas feitas para Vicuñas desde a manhã daquele dia...


Pastos Chicos!  Meu refugio para as proximas duas noites.
























Cheguei no hotel beira-de-estrada eram quase 16:00... A Ximena (uma especie de gerente faz tudo) disse que estava preocupada com meu sumiço. Para quem viveu um dia como este, o hotel (Alt.:3.620m) é quase um palácio! Pequeno, quente, limpo e minimalista como o altiplano. 

Coloquei  a pequena mala sobre a cama, coloquei as câmeras para carregar,  peguei  poucas coisas e fui caminhar por Susques. Também por ali, por detraz de Susques, saindo para norte, reaparece a RN40, que precisa de 306km para chegara à La Quiaca, onde a estrada termina ou começa. Este trecho é pra lá de difícil e abandonado.








Esta pequena igreja em Susques é a primeira construção Espanhola em alvenaria na Argentina. Sua obra data de 1590.



Abaixo: a palha por sobre os muros tem a função de não deixar a agua entrar por cima da alvenaria e condenar a estrutura. Uma prática Inca que funciona!






Ao contrário da horrivel e empoeirada San Antonio de los Cobres, Susques é uma vila antiga, fundada por índios Lickan-Antay, foi ocupada pelos espanhois que construíram em 1590 a mais antiga igreja Argentina (excluindo-se Buenos Aires) . As fotos da vila falam por si só.  Quando passei por aqui em 2011, odiei tudo isto, hoje aprendi a entender e gostar deste lugar.




































Fiquei  na frente do hotel, surrupiei uma cadeira dorestaurante e a coloquei na frente do lugar, entre a garagem e a estrada. A ausência de temperatura compensou o excesso de estrelas no céu, era a primeira vez que eu via o céu dos Andes em uma noite clara!!! Acho que fiquei por mais de uma hora olhando aquilo tudo e tentando tirar umas fotos só com a luz que brilhou de outros astros há milhões de anos.

























Sobre a região: Passamamos pelo grande salar em 2010 e março de 2017. Pastos Chicos e´a vila abandonada onde encontrei aquela jumentinha - veja os posts de março de 2017. o Hotel que tambem se chama Pastos Chicos, fica na vila de susques.









Etapa de hoje:  133.9
Trecho em rípio: 121km
Tempo andando: 03:25
Tempo total: 5:54

Distância acumulada: 3.035km







3 comentários:

  1. Que relato cara! Estarei indo de carro mês que vem, out/18, ainda não decidi se irei de los cobres até Susques pela ruta 40 que você fez ou outra.

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