domingo, 19 de novembro de 2017

RN40 - Abra de Acay Morro acima mais uma vez.... desta vez eu consegui!



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"It is not the mountain we conquer, but ourselves." Sir Edmund Hillary


Para o vídeo desta etapa clique aqui: Abra de Acay


Acima: O magnético e monumental Nevado da Acay (alt.: 5.570m)







































Feitos os procedimentos na ultra confortável pousada Sumak Sumay, e depois de uma visita cara-de-pau ao hotel com internet, tomei a estrada para a grande missão do dia. 

Peguei a RN51 de volta para Salta, exatos 14km depois eu estava no entroncamento com a  grande rodovia Panamericana (14:00 alt.: 3.850m 16°C ). Aquele era o momento de terminar a missão do dia 2 de março. Respirei fundo e segui a pequena estrada para o sul. Parei na primeira placa.




























Em meu post de 28 de abril de 2014, onde eu explico e estudo a RN40 eu digo que aquele trecho é na minha muito humilde opinião, a estrada mais difícil nos Andes Argentinos: estreita, rípio precário, deserto, sem vegetação, sem movimento e vai muito alto.

São somente 31 km morro acima, dez curvas de 180 graus e piso de terra com pequenas pedras. Parece fácil...  Tudo isto (alguns anos de planejamento) para se chegar à uma determinada curva onde existem umas placas e um visual interessante...


Acima: Este é o ultra simpatico e falante Mario Casas! É um guia de turismo especialista em RN40 (repare nos adesivos no parabrisas)!  Parou para saber se eu estava bem e ficamos numa otima prosa! Grande pessoa!coloresriojanos@hotmail.com



























Parei após uns 300m de ripio. Tirei fotos da placa, recalibrei os pneus, ajustei a suspensão para andar no piso incerto... Desde 2014 eu planejo e estudo esta rota, e estava ciente do risco, da extrema dificuldade, do clima duro e do abandono geral. Aquele realmente foi um trecho “erro zero”.


Por falar em “erro zero”, considerei trazer na mala uns Red Bulls, depois imaginei que o mais apropriado seriam umas Gatorades...   Nada disso!!!   Adotei a solução Inca para a situação: Tê de Cocá (Chá de coca mesmo)!!!  Joguei os saquinhos do remédio inca na garrafa térmica, rezei para Difunta Correa e saí com muita calma em direção à montanha mais hipnótica e feroz que eu já tinha visto!


O guarda no posto policial me explicou que por conta das chuvas de março, estrada foi reformada, o piso está mais plano e desabam menos pedras na pista (Pedras? Que pedras?). Também foi feito um pequeno barranco de 30cm para prevenir que se caia no abismo (Cair onde? Qual abismo?) e as placas de quilometragem foram recolocadas (Qual a utilidade daquilo???).










































Acima: por volta de 4.000m de altitude a reta acaba e começa a serra. Perceba a areia e pedras soltas no piso. As chatíssimas calaminas(costelas de vaca) eram poucas e baixas, mas elas trazem um alerta: quando elas somem, logo vem um banco de areia!!! 

O caminho segue reto por um vale, morros me cercavam e mal dava para ver o Nevado de Acay. São cerca de 15 km até a primeira curva fechada que já está a 4.250m de altitude ( 14:30    13°C ).  Durante este trecho de reta tive que superar calaminas ( as costelas de vaga) e alguns Arenales.  Não é mum trecho dos masi faceis, requer atenção. A partir de 4.300 eu começo a passar mal e a 4.500m de altitude existe metade do oxigenio disponível ao nível do mar.

Nem preciso dizer que surge a linda vegetação que existe nas partes ultra altas, passam bandos lindos de vicunhas e algusn Guanacos, a temperatura não cai tanto quanto eu esperava. Vou subindo devagar e fingindo que não vejo o precipício ao meu lado. Tiro fotos de algumas das novíssimas e inuteis placas de kilometragem. 

Abaixo: A placa da estrada é novinha... mas o visual fantástico tem uns 160 milhoes de anos...











































Curvas aqui e ali, raros trechos de retas e de vez em quando, lá no alto e na frente eu via o cume do Nevado de Acay (alt.: 5.570m), o que me dava uma mistura de animo e medo. A estrada foi subindo, a partir dos 4.500m aparecem alguns bofedais (terrenos pantanosos) cheios de Llaretas e os pequenos Ichus.



Acima: estes são Guanacos. São maiores do qua as Vicunhas e tem o rosto escuro
è extremamente difícil ver Vicunhas ou Guanacos, o motivo é a cor de sua pelagem
que se mistura à cor dos Ichús!!! 














































O caminho não é íngreme e passa por pequenos vales de rara beleza. De tanto em tanto dava para se ver o imenso vale de Los Cobres beeem abaixo.  Paro de tanto em tanto para oxigênio e para o santo Tê de cocá Inca. Ao lado da estrada acontece o fundo das ravinas, que por conta do degelo estavam bem úmidas. Perceba como os Guanacos e vicunhas desaparecem no meio dos Ichus  secos! Muito, muito bonito.


Eu não marquei a quilometragem e nem tampouco o ponto de destino no GPS. Para navegar eu usava somente a altitude. Eu sabia qual minha altitude no momento e sabia a altitude de destino. Eu simplesmente contei as curvas de 180 graus, são dez ao todo!


Passei por dois bandos de vicunhas e por 4 guanacos. Sua pelagem é exótica! Um amarelo claro quase dourado, chamativo e impressionante.... Mas ha um motivo para isso, nesta altitude ou Ichús também ficam secos e dourados ( é lindo) e os animais desaparecem nele!    Eu só consigo os encontrar quando estão diretamente na minha frente!

Por volta dos 4.600m a estrada entra em um vale contra uma fralda de morro, não dava para ver nada para cima, somente o imenso vale para o norte, o Salar Grande e os picos da cordilheira que por conta dos 4 dias de calor estavam sem gelo..

A 4.698m de altitude eu passo ao lado de uma jardim de enormes Llaretas (lembre-se: elas crescem somente 1 cm por ano!!!). Fui tirar fotos, e mesmo sabendo que as inocentes folhas verdes são espinhos, eu enfiei a mão ali e fiquei com vários dedos furados e doendo...
















A 4.790m de altitude acontece a última curva fechada, para a esquerda. Surge na minha frente o Nevado de Acay (alt.: 5.731m.) o que me deu uma mistura de animo e medo. Ando mais 1.800m  e chego ao meu grande destino: A Abra de Acay.





















































Paro a moça com muito cuidado, desço com calma e caminho muito devagar e vou cumprimentar os outros motociclistas e um grupo de alpinistas q estava lá. foi uma confraternização! Todos contam de onde veem e para onde vão, por entre os pequenos monumentos locais. Fui entrevostado por um blogueiro. O visual é de tirar o fôlego, na verdade o que me tirou o fôlego foram os 4.859m, o ponto mais alto de uma estrada federal em todo o continente americano. Eram 16:15, 6,5°C
































Vamos lá: a placa diz 4.959, meu GPS mostra 4.967m    e o programa google Earth informa 4.955 (um pesquisador declarou que são 5.061,mas não encontrei a base técnica para esta declaração). Para efeitos de comparação, como uso somente as info do GPS menciono a altitude em 4.967m , mas o dado oficial é 4.859m de altitude.




Antes que algum chato-acha-que-sabe apareça: existem no Chile dois caminhos acima de 5.000m, mas não estão em estradas federais... Um está no ALMA e outro em uma mineria proxima à Bolivia.


Parei para o chá, respirar, fotos, respirar, comidinhas e tentar respirar. Mesmo com o oxigênio eu engolia ar em quantidades andinas, o que congelou a garganta.


Tomei o  tê de cocá, que realmente é um santo remédio, e a água que eu esquentara no motor da Rocinante (truques de andinistas...). Sob o gostoso sol a temperatura era de 6,5°C  e o vento esteve calmo...  até que entrou uma ventania terrivel, mal conseguíamos ficar de pé ou segurar as cameras, A rocinante balançava muito apoiada no suporte lateral, coloquei-a contra o vento.   A ventania foi demais de desagradavel e no momento em 
ela deu uma trégua eu decidi descer.  



Para algo tão importante, o lugar é pequeno e apertado (tal qual um pódium). Existem os pequenos monumentos de sempre, homenagem aos que já se foram e outras bobagens escritas na pedra. Ha uma grande Apacheta.  A pequena igrejinha que se vê nas fotos é um oratório, mas não à Nossa Senhora mas dedicado à Pachamama.




Acima: Oratório à Pachamama, deusa Inca do tempo fertilidade. 


Abaixo: deixo uma piedra e uma garrafa de agua. Se eu estou aqui é por os três (Ínti, Pachamama e Difunta Correa me ajudaram)



























Aqui vale uma explicação. Pachamama é uma das três divindades máximas dos Incas. Por motivos que desconheço é a única ainda cultuada neste pedaço ao norte da Argentina, Bolívia e sul do Peru. 

Geralmente se considera Pachamama como uma divindade feminina relacionada com a terra e fertilidade. Na verdade "Pacha" significa "Tempo". Os Incas relacionavam o tempo à agricultura, a fertilidade do solo de das mulheres.  O interessante é que na mitologia, a sua morada está justamente no Nevado de Cachi (estivemos por lá em março deste ano), em cujo topo existiria um touro salivante de chifres dourados (o ouro são as lágrimas de Ínti, o deus sol) e que ao mugir expele nuvens de tempestade pelas narinas. Parece que o touro estava beeeem acordado em março deste ano, e dormia naquela tarde.  Pachamama é uma deusa generosa mas vingativa, quando fica ofendida manda seu touro resolver o assunto...












































Acima: Estava uma ventania do cão e 7°C. Eu precisava tirar esta foto...  na verdade eu estava é me segurando na placa!!!


Este lugar foi construído em cima de uma antiga trilha inca (neste pedaço da Argentina, tudo para o que não se sabe a origem é declarado como sendo Inca...), a obra ficou pronta em 1960.

 Eu não gastei tempo olhando para o sul, caminho para La Poma e Cachi (vide post de 2 de março 2017) olhei para o colossal cume do Acay e para o norte, onde ficam o Chile e a Bolivia, e para um determinado pico, que fica atrás de San Antonio de los Cobres, o Vulcón Tuzgle e mais à oeste o cume com pouca neve do vulcón Socompa. É lindo ver a mancha branca do Salar Grande bem ao norte


Ali, no lugar mais alto que você leitor conseguiria subir com qualquer jipinho alugado, estão dois grandes amigos meus: O silêncio e o céu de um azul único. Ha quem chame isto aqui de "nido del viento blanco".











Decidi caminhar até uma parte mais alta, buscar duas pedras para acrescentar à grande Apacheta que existe na curva da estrada. Subir a pé foi o tipo da ideia idiota e arriscada, mas que me trouxe fotos lindas e um pequeno tempero no sabor de conquista. Aquele lugar, que estudei por 4 longos anos é o meu Everest.

Abaixo: Visão geral do lugar, a caminhonete é de um grupo de alpinistas que vieram subir o Acay. Neste momento o vento estava violento!!!






Acima: As Apachetas são pedras empilhadas pelos que passam, ou realizam uma promessa, sempre ha uma em um lugar difícil ou extremamente lindo. É algo entre um marco e uma oferenda. Ha exagerados que declaram que as que existem aqui (são três) são as mais antigas e maiores da Argentina... vai saber...




















Acima: colocando a minha pedra e meus desejos na Apacheta! A foto está tremida por conta da ventania!






















É difícil tomar a decisão de sair de um lugar como aquele. A  Altitude me pega sim, fico lerdo, não consigo terminar tarefas simples e perco totalmente a noção do tempo. O cha de coco me ajudou muito!  Não me senti mal com a altitude, mas extremamente inseguro por conta do vent fortíssimo.


Quando se chega ao mirante no corcovado, no Rio de Janeiro, se está entusiasmado, se corre de um lugar para o outro, tira fotos, fala com meninas bonitas e compra os souvenirs. Ali eu estava cansado, sem oxigenio, congelado e beeem zonzo. Me sentei próximo ao santuário para descansar e de repente fui tomado de um pavor: se eu cochilar aqui eu não acordo nunca mais!!!


Coloquei uma pedra na Apacheta e outra no pequeno santuário à Pachamama.  O vento deu uma tregua e eu resolvi começar o caminho de volta. Ja eram 16:55 e a temperatura estava estável nos sete graus celsius.

A subida não foi lá tãao dificil e a descida foi mais facil do que eu imaginava... Um caminho é o mesmo, mas para baixo ele fica lento, estreito e perigoso. A beleza estava nas vicunhas e na vista para o vale. Fui extremamente devagar, aproveitando tudo aquilo e parei várias vezes para fotos e agua.



Acima:No fundo das ravinas a umidade se acumula e forma os Bofedais.



Abaixo: Estas são Llaretas! uma planta fantástica (e espinhuda...) que hoje é protegida por lei!













































Custou para voltar aos 4.300m onde a Puna me ataca menos. Realmente, sem o chá de coca a coisa teria dado bem errado. Somente uma hora e 55 min depois do cume eu encontrava a RN51, virei à esquerda e segui para San Antonio de Los cobres. Comemorei muito o sucesso desta minha ideia!!!

 A temperatura estava em  16°C e percorri os últimos 14km com quem sai do pódium e volta para o vestiário. Devagar e calado.

Cheguei na vila ( 18:15    16°C ) e queria aproveitar o dia, eu teria luz até as 19:00. A vila fica a 24° 13’ Sul, mesma latitude de Itanhaem - SP, ou seja os dias não são muito longos.  Mas resolvi ir descansar no hotel antes do jantar... 

Queria ver as fotos o a grande quantidade de vídeos !


Missão Cumprida!!!





 Acima: o caminho visto de sul para norte, em vermelho o trecho em rípio.

Abaixo: Detalhe da estrada. Parece fácil não? O Pico nevado à direita é o Nevado de Cachi, moradia de Pachamama. No vale logo abaixo e a esquerda dele ficam Cachi e Payogasta. Beeem la no fundo da imagem fica Cafayate. (aposto que você não leu que eu andei por aqui antes deste post... procure no índice, vale a pena!)













































Segunda etapa de hoje:  88km
Trecho em Ripio: 66km
Tempo andando: 04:14
Tempo total:

Distância acumulada: 2.894,80 km





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